Era
um dia de chuva, a praça matriz e as acanhadas ruas estavam um lamaçal, o dia
era um domingo de páscoa, as horas avançavam e já se aproxima o crepúsculo
noturno, mas uma leve garoa ainda insistiu em cair no município de Macapá. As
mangueiras que rodeavam a praça matriz neste dia chuvoso estavam inertes devido
à falta do vento, o Zé da Lamparina se aparelha para acender os lampiões que
estão em frente à paróquia, os regatões que aportaram no final da tarde na Doca
da Fortaleza, descarregavam as últimas mercadorias de seu “batelão” e se
despedem de mais um dia de trabalho, acertando com os companheiros para tomar
uma cachaça logo mais, para se distrair.
Padre Júlio Maria de Lombaerde |
O
comerciante Leão Zagury começa a fechar o armazém, Casa Leão do Norte e se deslocar
para Praça de São Sebastião. O mastro com a bandeira do Divino Espírito Santo
já esta hasteada. Próximo dali, seu
Julião Thomaz Ramos (mestre Julião) juntamente com a sua comunidade afro
descendente aquecem os tambores para mais uma apresentação de Marabaixo
(folguedo é uma manifestação musical elaborada a partir das referências do
catolicismo popular), realizada na Praça matriz, local de encontro da cidade.
Dentro
da igreja Padre Júlio já está finalizando a missa, distribuindo a benção
apostólica. A comunidade negra se aproxima e arrisca um breve jogo de capoeira,
esperando o rufar dos tambores dos praticantes do Marabaixo. O pároco Padre
Júlio se desloca a casa paroquial, bem ao lado da igreja, e começa tirar a sua
estola quando de repente mestre Julião chegou para pegar da coroa de prata do
divino espírito santo, pois, esta ficava de um dia para o outro para receber a
benção. O padre belga nunca aceitou a festividade do Marabaixo, para este, era
uma festa profana, “elas não passavam de batuque e bebedeira, com exploração de
dinheiro, mediante a apresentação da coroa de prata do Espírito Santo,
conhecida como Divino” (CAVALIERI,
1981, p.15). Então, o padre para acabar com esse alarido resolve quebrar a
coroa de prata do Divino e mandou um dos coroinhas entregarem os pedaços ao
festeiro.
A
revolta foi tanta que os festeiros cogitaram invadir a casa do padre para espancá-lo,
todos os
brincantes portavam porretes de madeira nas mãos e, insuflados por Julião
Ramos, foram se posicionar na frente da casa do padre, situado na Rua São José. Enfurecida,
a turba continuou gritando palavras hostis ao eclesiástico, os
alunos que lá residiam para estudar e ser catequizado se armaram (facas,
rifles, cacetes) para impedir essa tragédia. Nessa altura a brincadeira na
praça já tinha tomado a todos com certo ar de preocupação, o intendente Cel.
Teodoro Manuel Mendes foi acionado para conter os ânimos dos festeiros.
Diversos
residentes da cidade simpáticos ao vigário acompanharam a situação com certo
pesar, pois o missionário era muito querido pelos populares. Essa estimação
veio através do tratamento oferecido aos necessitados e pobres da localidade,
haja vista que a comunidade não tinha nenhuma estrutura de atendimento médico,
e grande maioria do povo sofria de malária, úlceras, gripes, pneumonia; o padre
por ter conhecimento básico de medicina, se dispôs a cuidar da saúde dos moradores.
REFERÊNCIAIS
CAVALIERE, Ivan
Fornazier. Padre Júlio Maria Lombarde na
memória do povo de Macapá. Juiz de Fora - MG: Gráfica Floresta LTDA, 1981.
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